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Créditos |
É amplamente sabido que o Canadá tem despontado há muito tempo, tanto em elevado IDH quanto
nos investimentos e pesquisas na área de educação. É notável a existência de
blogs e sites, dedicados a essa área do conhecimento humano, escritos por verdadeiros especialistas
canadenses, e, em especial, os dedicados ao debate sobre as experiências de
cursos a distância e o uso de tecnologias educacionais na educação.
Enquanto aqui no Brasil a
educação a distância, sobretudo no que diz respeito à oferta de cursos
universitários, ainda enfrenta séria resistência, nos países da Europa e de
outros continentes, sobretudo os de língua inglesa, a disseminação dos MOOCS
(Mass Online Open Courses), que são os cursos a distância, é uma realidade, e
não mais se discute sua implantação, mas seus pontos fracos e fortes, suas vantagens
e desvantagens, e o que precisa ser feito para melhorar sua utilização e obter
melhores resultados.
Considerando a preocupação
das autoridades canadenses em melhorar a relação custo benefício
(produtividade) na educação superior, ou seja, na concepção de produtividade
como “o maior retorno possível para cada dólar gasto,
não importando que venha de taxas escolares ou de impostos.”, Tony Bates
publicou uma série de artigos sobre essa temática,
sobretudo o uso das tecnologias educacionais para alcançar esses resultados.
Achei a discussão interessante para nós gestores/educadores brasileiros, que
estamos iniciando a experiência do ensino a distância. Por essa razão, estarei
publicando traduções/resenhas desses artigos neste blog, com algumas
adequações, porém procurando manter a essência do pensamento do autor original.
O desafio de lidar com o aumento da demanda na educação superior
De acordo com Tony Bates, o
sistema de educação de massa é uma realidade no Canadá. Ele observa que o
acesso de mais pessoas ao sistema significa o aumento dos custos para o poder
público, o que reflete nos impostos. Mesmo assim, ele entende que o poder
público deva realmente financiar a educação. No entanto, faz uma
crítica à resposta do sistema para esse aumento de alunos, que consiste,
basicamente, na ampliação das salas de aula, na construção de mais edifícios, na
contratação de corpo docente e professores assistentes com baixos salários. E
observa que essas medidas não implicam no aumento de produtividade (da relação
custo-benefício), mas revelam a falta de planejamento para lidar com as
mudanças no sistema. Nas palavras de Tony Bates é uma resposta “[...]
desajeitada, sem planejamento, e mal concebida [...]”.
Não sei se seria
imprudência comparar essa experiência canadense com a brasileira, mas é
perceptível que no processo de massificação de nossa educação superior, tem
acontecido algo semelhante, visto que nossas universidades estão oferecendo
mais cursos e mais vagas, e, para suprir a demanda, estão construindo novas salas
de aula e contratando professores substitutos. A qualidade do resultado no
processo ensino-aprendizagem, no entanto, é questionável.
Na experiência canadense
esse questionamento também é levantado, porém, segundo Bates, “[...] não há
evidências de que o resultado na qualidade do aprendizado tem melhorado – na
verdade, o oposto tem sido cogitado (muito embora existam poucas evidências
para ambos os argumentos)”.
Outro aspecto observado
por Tony Bates, e que se assemelha à experiência brasileira, é que o aumento de
alunos no sistema não tem significado, necessariamente, “[...] mais graduados,
considerando que muitos desistem ou levam mais tempo para se graduar em um
sistema menos eficiente, aumentando os custos [públicos] como um todo a cada
ano”. Ele observa também que uma das conseqüências negativas desse contexto é
“[...] enfraquecimento no poder aquisitivo dos professores”, devido à subcontratação
de profissionais por baixos salários, tais como professores substitutos e
professores assistentes.
Investimento
em tecnologias como resposta ao desafio
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Como solução para essa
conjuntura, tem-se depositado “Esperança ou desejo de que a tecnologia levará
ao aumento de produtividade”. Em outras palavras, “A substituição dos altos
custos com trabalhadores por baixos custos em tecnologia, ao mesmo tempo em que
se mantém ou se aumenta os resultados”.
Bates observa que:
As universidades ao redor do mundo, e particularmente no Canadá e nos
EUA, tem investido pesadamente em tecnologias educacionais: não apenas com
sistema de gerenciamento de aprendizagem, de palestras, de gravação, ou quadros
brancos [eletrônicos], mas com o pessoal de suporte tecnológico, e o maior,
porém o mais oculto gasto, o tempo para o corpo docente aprender como usar e
aplicar as tecnologias de aprendizagem.
Ele acrescenta:
Acredito que amadurecemos um pouco mais nessa temática. O crescimento no ensino superior é tal que
continuaremos a necessitar de professores e instrutores por mais tempo do que
possamos imaginar. O que deveríamos procurar é conseguir mais resultados
daqueles que já estão no sistema, sem, necessariamente aumentar sua carga
horária. Para fazer isso, necessitamos parar de nos fixarmos apenas nos custos,
mas começar a focar mais nos processos (tais como métodos de ensino) e
resultados (tais como resultados de aprendizagem), e de como a tecnologia
poderia ser usada para melhorar esses resultados.
Essa linguagem “industrial”
de busca pela melhoria da “produtividade” também é criticada pelo autor, da
seguinte forma:
É improvável transferir os modelos da indústria para a educação superior [por
essa razão] Precisamos construir modelos e teorias de produtividade que melhor se adequem aos objetivos e propósitos da educação. Mas isto
não deveria significar o abandono da idéia de produtividade – só necessitamos
ter certeza de que ela seja adequada. (grifo nosso)
De Kurt Lewin resgata a
ideia de que “Não há nada mais prático do que uma boa teoria”, e propõe a
construção de uma “teoria de produtividade educacional baseada na tecnologia”.
Nessa perspectiva, ele
apresenta algumas vantagens de se elaborar uma teoria de produtividade
educacional, a saber:
1 “Proporcionaria uma variedade
de inter-linking conceituais para
melhor definir e explorar”;
2 “Permitiria predições do
tipo “Se fizermos ‘x’ nas condições ‘y’, podemos esperar que ‘z’ aconteça”.
O autor ressalta que já
existem teorias poderosas sobre produtividade educacional em geral, e cita a
teoria de Walberg para produtividade educacional no aprendizado em sala de
aula, que destaca alguns fatores para atingir esse resultado, tais como:
habilidade e motivação dos alunos, a
qualidade e a quantidade instruções; o ambiente psicossocial da sala de aula as
condições de estímulo à educação em casa e entre os pares, e a exposição à
mídia de massa.
No entanto, ressalta que seu objetivo na construção de uma
teoria é o de:
Focar no papel que a tecnologia poderia exercer para
aumentar a eficiência do aprendizado na educação superior, e, em particular
definir isto em termos de o que o corpo docente [...] (e provavelmente
administradores) precisam fazer para melhorar a produtividade através de
tecnologias de aprendizagem, e, especialmente, o efeito de sair das salas de
aula para atividades online.
Com esse propósito em
vista, ele questiona “Quais seriam os elementos de uma teoria de produtividade
educacional baseada na tecnologia?”.
Na tentativa de responder a esse
questionamento, apresenta algumas idéias, a saber:
1 O que queremos dizer por resultado na educação superior – e como deveríamos
medi-lo/avaliá-lo?
2 Como pode ou poderia a tecnologia mudar o processo e ensino e
aprendizagem para melhorar os resultados e/ou diminuir as unidades de custos? (Na
verdade, o que é uma ‘unidade de custo’ na educação?
3 Quais serão, se houver, os ganhos potenciais de produtividade do corpo
docente tornando-se consultores de ensino, ao invés de instrutores no sentido
tradicional do termo?
4 Quais serão, se houver, os ganhos potenciais de os alunos gerenciarem
seu próprio aprendizado através do uso de recursos abertos [plataformas na
internet], mas sob a supervisão de um membro do corpo docente?
5 É possível substituir despesas de alto custo, tais como: salas de aula, prédios e transportes, por despesas de baixo custo, tais como comunicações e
educação a distância? Se possível, como se pareceria a organização das
atividades de ensino superior?
6 Se podemos melhor definir resultados em termos de aprendizado, podemos
encontrar formas mais produtivas de verificar o aprendizado?
7 Como tudo isso afetará direta e indiretamente os custos para os alunos,
bem como para as instituições?
8 Poderíamos desenvolver um índice de produtividade para a educação
superior para medir os efeitos do aumento de investimento em tecnologia? Se possível,
quais seriam os elementos necessários?
O autor explora
essas ideias em outros artigos, que estarei resenhando/traduzindo, e publicando em breve neste blog.
Texto base desta resenha technology, teaching and productivity: the need for theory
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