
A primeira e principal
razão é que os próprios jovens têm se tornado os maiores defensores de uma
educação universal para meninas e meninos. Recusando-se ficar calados diante da
negação de oportunidade, os jovens – particularmente as garotas – lançaram uma
das grandes lutas por direitos civis de nosso tempo.
Poucos poderiam ficar
imóveis diante da brava luta da jovem paquistanesa Malala Yousafzai, depois que
o Taliban atirou em sua cabeça porque ela insistia no direito de jovens garotas
por educação. Poucos deixaram de notar a manifestação pública massiva em apoio
no Paquistão e em outros lugares favoráveis à causa pela qual ela está lutando.
Da mesma forma, temos
também visto em meses recentes a criação por alunas em Bangladesh de zonas de
crianças livres de casamento, com o objetivo de defender os direitos de garotas
permanecerem na escola ao invés de se casarem contra sua vontade. Na Índia, a Global March
Against Child Labor (Marcha Global contra o Trabalho Infantil), liderada pela
defensora dos direitos das crianças Kailash Satyarthi, resgatou milhares de
jovens garotos e garotas de uma vida de escravidão em fábricas, oficinas, e
serviço doméstico, e tem assegurado seu retorno à escola.
Essas manifestações por
garotos e garotas exigindo seu direito por educação tem tornado a luta pela
escolaridade básica impossível de se ignorar. Consequentemente, todo governo
agora se sente sob pressão ainda maior para colocar em prática as Metas do Millennium
Development Goals (Metas do Milênio para o desenvolvimento global) (“alcançar
a universalidade da educação primária”) até o fim do ano de 2015.
Mas uma segunda força
mundial também tem impulsionado a educação para o centro da agenda política da
maioria dos países: o aumento do reconhecimento da importância dado a educação
por aqueles que analisam a razão de os países serem bem sucedidos ou não. Por
anos, acadêmicos têm debatido se cultura, instituições, ideologia, ou recursos
levam alguns países a ficar para trás. Hoje, um número crescente de escritores,
pesquisadores, e responsáveis pela criação de políticas vêem uma ligação
crucial entre educação e sucesso econômico de um país.
O emprego do capital
humano tem se tornado um fator importante para explicar porque alguns países
continuam emperrados em uma “armadilha de renda média” e porque outros não
conseguem romper o status de baixa renda. E pesquisas que avaliam o capital
humano de um país têm seu foco na quantidade e qualidade das habilidades
básicas, mão de obra especializada, e domínio em pesquisa e desenvolvimento.
Colocar a educação em
primeiro lugar é urgente diante da quantidade de talento e potencial
desperdiçado em todo o mundo. Em torno de 57 milhões de crianças ainda não vão
a escola, 500 milhões de garotas nunca concluirão a educação secundária, e 750
milhões de adultos continuam analfabetos.
A relação entre educação e
sucesso econômico torna o investimento em escolaridade e treinamento uma
questão altamente importante para os negócios também. Em 2020, de acordo com o
Instituto Global McKinsey, enfrentaremos os twin problems (problema duplo) de um
déficit de até 40 milhões de trabalhadores com altas habilidades e um excedente
de até 95 milhões de trabalhadores com baixas habilidades. Em 2030, a mão de
obra global de 3,5 milhões incluirá um número estimado de um bilhão de
trabalhadores sem a educação secundária, prejudicando significativamente as
perspectivas econômicas de seus países.
Como resultado, sem uma intervenção urgente, os negócios possivelmente enfrentarão um enorme escassez de
competências, especialmente nos mercados emergentes e países em
desenvolvimento, onde a maior parte das atividades econômicas estarão
concentradas. De fato, a taxa de analfabetismo adulto na Somália é de 63% e de
39% na Nigéria; no Suldão do Sul, mais garotas morrem durante o parto do que
completam a educação primária.
A menos que atuemos, em
meados deste século a economia global será caracterizada por uma enorme perda
de talento e desigualdade de oportunidades. De acordo com os novos números do
próximo livro do Wittgenstein
Center’s (Centro Wittgenstein) World Population and Human Capital in the
21st Century (População Mundial e Capital Humano no 21º
Século), projeta-se que apenas 3% dos adultos jovens no Mali e em Moçambique
terão educação superior em 2050; a proporção esperada para a Nigéria, Libéria,
Ruanda, e Chade é de 4%, e apenas 5% no Malawi e Madagascar. Enquanto a
projeção para a América do Norte como um todo é de 60%, a previsão para a
África-subsaariana é de 16%.
Esses números revelam um
mundo dividido entre os que têm e os que não têm oportunidade de educação, um
potencial enorme de repercussão não apenas na escassez de competências e
prejuízo econômico, mas também em termos de estabilidade social. As palavras de
Earl Waren, ex-Chefe da Suprema Corte de Justiça dos Estados Unidos, em Brown v. Board of Education (Brown versus Conselho de
Educação), que detonou a base legal da segregação racial nas escolas públicas
Américas, permanecem relevantes hoje: “É duvidoso esperar-se, razoavelmente,
que qualquer criança possa ser bem sucedida na vida se lhe for negada a
oportunidade de educação”. Como Waren coloca: “Tal oportunidade [...] é um
direito que deve ser colocado à disposição para todos em iguais condições”.
Temos pouco mais de dois
anos para tornar a educação básica, de um privilégio de alguns para um direito
de todos. O Secretário Geral Ban e eu estamos determinados que todos os dias,
até a data final de dezembro de 2015, nós trabalharemos duro o quanto for
necessário para assegurar que toda criança esteja na escola.
Texto original entitulado Putting Education First, de autoria de Gordon Brown, postado em 15/11/2013.
Nota:
Considerando as peculiaridades culturais, geográficas e econômicas dos diversos países do mundo, não precisa muito esforço especulativo para concluir que essa meta não será alcançada dentro do prazo estabelecido. Como sempre, a temática da educação é muito rica no discurso, chegando às vezes às raias da utopia. Na prática a realidade apresenta um abismo enorme. Mas vamos continuar acreditando que paulatinamente a educação de qualidade e para todos seja uma realidade em todas as nações.
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