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Leia a primeira Parte desta Resenha
O primeiro aspecto a ser evidenciado quanto à legitimidade do poder do Estado, é o fato de que, a mediação dos conflitos feita nos primórdios por detentores do poder social, lhe foi delegada.
É por meio do que Habermas denomina de poder político,
e também poder administrativo,
que o Estado realiza a tutela dos direitos fundamentais dos cidadãos. Dessa
forma, “O Estado se transforma numa instituição para o exercício burocrático da
dominação legal”. (p. 171).
Essa tutela do Estado, no
entanto, não é pacífica. Algumas tensões emergem nesse processo. Habermas (p. 174) apresenta pelo menos quatro tipos de tensão resultantes dessa relação entre o
Estado e a sociedade, a saber:
a) legitimidade do direito versus legitimidade da
ordem de dominação;
b) facticidade[1] versus validade do direito;
c) positividade[2] versus
legitimidade do direito; e,
c) autonomia pública versus autonomia privada.
Visando-se ao equilíbrio
desses pontos de tensão, a legitimidade do poder e atuação do Estado, sobretudo o Estado democrático de direito, deve estar fundamentada em um sistema de
direitos, construído mediante um processo de juridificação[3].
Nos termos de Habermas (1997) a legitimidade do poder político executivo de organização e de sanção deve ser reconhecida mediante a canalização desse poder pelas vias do direito.
Nos termos de Habermas (1997) a legitimidade do poder político executivo de organização e de sanção deve ser reconhecida mediante a canalização desse poder pelas vias do direito.
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No entanto, a legitimidade
do poder político do Estado pressupõe harmonia com outros dois tipos de poder
trazidos à discussão por Habermas, a saber: o poder administrativo e o poder comunicativo,
podendo esse último ser traduzido como sendo o poder do povo de exprimir sua
vontade, seus anseios, sua voz.
Essa harmonia consiste no
fato de que o poder da administração do Estado é constituído, como já vimos,
por meio e conforme o direito, ambos devendo estar apoiados no poder comunicativo, para que possam ser considerados
legítimos. Em outras palavras, o direito deve ser o meio pelo qual o poder comunicativo venha a se tornar em poder
administrativo.
Usando as palavras de
Habermas (p. 186) pode-se afirmar que “se o poder da administração do Estado,
constituído conforme o direito, não estiver apoiado num poder comunicativo
normatizador, a fonte da justiça, da qual o direito extrai sua legitimidade,
secará”.
Do exposto, é possível
concluir com Habermas (p. 190) que um dos ideais do Estado de direito é “ligar
o sistema administrativo, comandado pelo código do poder, ao poder
comunicativo, estatuidor do direito, e de mantê-lo longe das influências do
poder social [ou seja] da implantação fática de interesses privilegiados [é por
essa razão que] o poder administrativo não deve reproduzir-se a si mesmo e sim,
regenerar-se a partir da transformação do poder comunicativo”.
Quando adverte que "o poder administrativo não deve reproduzir-se a si mesmo", ele está se referindo ao fato de que a administração não pode agir livremente por meio de decretos, normas, e portarias, que não estejam de acordo com a legalidade.
Quando adverte que "o poder administrativo não deve reproduzir-se a si mesmo", ele está se referindo ao fato de que a administração não pode agir livremente por meio de decretos, normas, e portarias, que não estejam de acordo com a legalidade.
Por fim, é importante destacar que,
“Somente na modernidade o poder político [do Estado] pode desenvolver-se como
poder legal, em formas do direito positivo. A contribuição do poder político
para a função própria do direito, que é a de estabilizar expectativas de comportamento,
passa a consistir, a partir deste momento, no desenvolvimento de uma segurança
jurídica que permite aos destinatários do direito calcular as consequências do
comportamento próprio e alheio". (p. 183).
Na terceira parte desta resenha discutiremos o Direito: Legitimidade, funções e relações
Na terceira parte desta resenha discutiremos o Direito: Legitimidade, funções e relações
vocabulário
1 facticidade - "De acordo com Heidegger, [é] a condição da existência humana em relação ao mundo, sujeita às circunstancialidades e necessidades inexoráveis dos fatos. Característica do que é factual, do que tem relação com os fatos". (Fonte: Dicionário Web )
2 positividade - vem de direito positivo, ou seja, aquele que está escrito, codificado, o ordenamento jurídico.
2 positividade - vem de direito positivo, ou seja, aquele que está escrito, codificado, o ordenamento jurídico.
3 juridificação - "Para entender o que significa juridificar, utilizaremos Ricoeur como referencial. De forma elementar, entendemos juridificar como tornar algo jurídico, portanto legal (não necessariamente legítimo), conforme o direito. É a expressão da lei". (Fonte: Christian Otto Muniz Nienov, p. 42)
Leia também a biografia e o Pensamento de Habermas
Créditos
1 Imagem de edifício em Brasília disponível nesse site
2 Imagem do Vade Mecum disponível nesse site
3 Imagem de militares marchando disponível nesse site
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