terça-feira, 11 de junho de 2013

Crise contemporânea na social-democracia

Este texto é um simples exercício de reflexão fomentado pela professora Drª Márcia, da disciplina "Democracia e Organizações Aprendentes", do MPGOA [1] - UFPB. 

Créditos: Confederación Intersindical Galega
Na qualidade de gestores/educadores aprendentes, não podemos fechar nossos olhos para o que está acontecendo no mundo, em especial no conhecido "Velho Continente", de onde vem muito de nossa herança cultural. Precisamos compreender o que está acontecendo por lá, pois o tempo em que vivemos não só reflete, mas vai além do sentido da expressão "Aldeia Global" [2], cunhada pelo filósofo canadense Marshall McLuhan, há mais de 50 anos. Fomos aproximados uns dos outros de tal forma, que tornamo-nos uma sociedade mundial complexa, interligada, e sistêmica. Portanto, não se pode ignorar o que está acontecendo lá, pois, de uma forma ou de outra somos afetados.

Para começar esta breve reflexão, é importante considerar o fato de que a social-democracia foi uma conquista “[...] dos movimentos: de classe, socialista, sindicalista e anticapitalista que no século XIX lutavam contra a repressão estatal – bismarckiana, militarista e bonapartista.” (FILHO, 2011). 

Na proposta da social-democracia percebe-se uma tentativa de encontrar o meio termo entre capitalismo e socialismo. Ou seja, o Estado tendo papel crucial, sobretudo no que se refere às medidas visando ao bem-estar geral de seus cidadãos, mas ancorado para isso em uma economia de mercado com relativa independência. Tudo visando a desfazer “as divisões de classes e as desigualdades sociais produzidas pelo capitalismo”. (ESPING-ANDERSEN, 1990, p. 83).

Percebe-se que o ideal perseguido pelo socialismo, com base em Marx, era o desaparecimento de uma sociedade de classes, com o estabelecimento da igualdade entre os cidadãos. Nesse sentido, havia os teóricos, encabeçados por Adam Smith (1961), que entendiam que “o mercado tem a potencialidade de destruir a sociedade de classes” (ESPING-ANDERSON, 1990, p. 86); por outro lado, inspirados em Marx, havia os que rejeitavam completamente essa convicção liberal. 

Ocorre, porém, que nem o capitalismo por si tem garantido essa igualdade e extinção de classes — pois é notório que aprofundou mais ainda o abismo existente entre os vários segmentos da sociedade —, nem a social-democracia conseguiu esse feito, pois, apesar de elevar o nível de bem-estar dos cidadãos, fez surgir outros segmentos com salários e previdência social privilegiados, à exemplo dos “assalariados white-collar”. Essa divisão também é percebida pelo fato de que, enquanto uma grande maioria dependia da previdência Estatal, surgiram aqueles que, por razão de seus bons salários, pagavam por planos privados. Desfazendo o sonho da sociedade sem classes.

Outro complicador para a social-democracia reside no fato de que nem todos podem ser absorvidos pelo mercado, passando a viver de benefícios, em forma de salários-desemprego (ESPING-ANDERSON, 1990, p. 93) muito próximos aos salários dos ditos trabalhadores ativos. Essa situação acarretou a sobrecarga do Estado, e consequente quebra, pois, como ensina Okun (1975 Apud ESPING-ANDERSEN,1990, 92) “A redistribuição social coloca a eficiência em perigo e só a partir de um certo nível de desenvolvimento é possível evitar um resultado econômico negativo”. 

Créditos: André Nogaroto
Acontece que, além dessa política de bem-estar, outros gastos públicos desordenados, e o caráter sempre crescente de um mercado especulativo, tornaram o sonho social-democrata inviável.

No afã de aplacar as consequências negativas dessa conjuntura econômica, são adotados os famosos “pacotes” econômicos, caracterizados por diversos cortes que recaem, principalmente, sobre a grande maioria da população assalariada. Essa, além de não aceitar reduções salariais, se desespera diante da possibilidade da perda de privilégios do welfare state. Acarretando os muitos protestos — alguns marcados por violência —, a que temos assistido diariamente na televisão e internet.

Então, entendo que os dois principais vilões do colapso da social-democracia sejam seu modelo de welfare state e uma economia de mercado marcada pela especulação, sobretudo a praticada pelas instituições financeiras.

[1] MPGOA - Mestrado Profissional - Gestão em Organizações Aprendentes.

[2] Mais informações sobre conceito de aldeia global

REFERÊNCIAS

ESPING-ANDERSEN, Gosta. As três economias políticas do welfare state. In: The three worlds of welfare capitalism. Princeton, Princeton University Press, 1990. Tradução do capítulo por Dinah de Abreu Azevedo. 

FILHO, João Batista Domingues. Correio de Uberlândia. Disponível em: http://www.correiodeuberlandia.com.br/pontodevista/2011/05/20/social-democracia/ Acessado em: 01/06/2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário