segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Pedagogia Institucional: contribuições para resolução de conflitos na escola

O cenário da educação brasileira é preocupante em vários aspectos. É uma situação complexa e desafiadora, pois é um problema sistêmico, resultante de um somatório de fatores diversos, que vão desde a desestruturação das famílias, passando pela limitação de investimentos nessa área, chegando às salas de aula, com o despreparo de muitos professores desencantados com a profissão.

Essa conjuntura, inevitavelmente, tem resultado em variados e constantes conflitos vivenciados pela comunidade escolar. Tristemente, muitos desses embates, sobretudo os acontecidos entre professores e alunos, vão além das agressões verbais, resultando em sérias lesões físicas, e, até mesmo, na morte de professores. Dessa forma, o espaço escolar como ambiente de interação, de construção e compartilhamento de conhecimento, de crescimento espiritual, de preparação para a vida, sonho de todo teórico da educação, de todo pai/mãe, de todo professor, parece cada vez mais distante da realidade.

Há um número considerável de vídeos na internet apresentando flagrantes de agressões físicas e verbais, tanto de alunos contra professores, quanto de professores contra alunos. Sem procurar apontar culpados por esses incidentes lamentáveis, esses casos merecem ser cuidadosamente estudados, visando-se à prevenção de conflitos em sala de aula, bem como ao aprendizado de como lidar com conflitos já desencadeados.

Algumas perguntas devem ser feitas, tais como: O que tem acontecido antes para que esses lamentáveis incidentes sejam desencadeados, e acabem em agressão física? Por que, apesar de tanto se escrever sobre pedagogia mais interativa, aprendizagem significativa, encantamento pela educação, e tantas outras abordagens, princípios e técnicas, os professores continuam agindo à moda tradicional, sendo o centro do processo ensino-aprendizagem, com suas tediosas aulas tradicionais, e suas formas tradicionais de aplicar avaliação? Por que é tão difícil a teoria ser colocada na prática?

A partir de uma hipótese que emerge da pura observação, esse número, talvez não oficialmente registrado, de incidentes escolares, aponta para a necessidade cada vez maior de os professores/educadores dominarem, não só o conteúdo programático de suas disciplinas, mas também teorias pedagógicas elaboradas ao longo dos séculos, bem como conhecimentos básicos de psicologia, pois esses saberes se constituem grandes aliados à sua prática docente.

O artigo "Entre desejo e lei: pedagogia institucional e conflitos na escola",  de Andrade e Gonzaga (2010), traz algumas respostas aos questionamentos aqui levantados. Dialogando com princípios da psicanálise e da pedagogia institucional, advogam a gestão não violenta de conflitos relacionais na escola (p. 32), contribuindo, dessa forma, para apontar opções realísticas de saída desse labirinto de conflitos e desilusões que se tornou a relação entre os atores sociais que integram a comunidade escolar, que vai além da relação professor-aluno.

Para os autores, educação e psicanálise são atividades complementares. Ou seja, “A educação propõe saberes, sentidos e identificações”; enquanto a “psicanálise investiga processos que, na direção contrária, pervertem aqueles saberes, imagos e significações”. (ANDRADE e GONZAGA, 2010, p. 32, grifo nosso). 

A Pedagogia Institucional é apresentada como abordagem educativa, caracterizada por:

1) Ressaltar [...] os aspectos relacional e estrutural que sustentam o processo de ensino e aprendizagem;
2) Advogar o princípio de que, educar é cuidar das condições que instituem e mantêm as relações intersubjetivas em torno do conhecimento. 

Constitui-se em um conjunto de: técnicas, organizações, métodos, e instituições internas. (p. 32), e demanda, dos atores da comunidade escolar, engajamento pessoal, iniciativa, ação, e continuidade.

Fernand Oury, proponente dessa abordagem educativa, a partir de suas próprias experiências em sala de aula, tendo como aportes teóricos para suas ideias “o Movimento Freinet, a teoria da psiquiatria institucional (Jean Oury, Félix Guatarri), as teorias sobre psicologia de grupo (especialmente as de Lewin e Moreno) e a teoria psicanalítica (a lacaniana, marcadamente)”. (ANDRADE e GONZADA, 2010, p. 33), apresenta algumas técnicas para lidar com os conflitos (PAIN, 2009, apud ANDRADE e GONZAGA, 2010, p. 33), dentre as quais estão:

1) técnicas de expressão; 2) técnicas de trabalho em grupo; 3) técnicas de dinâmicas de grupo; 4) técnica de pensamento social.

Alguns princípios norteiam essas técnicas: 1) o trabalho é uma atividade educativa; 2) a necessidade da constante participação individual em função da vida coletiva.

Por fim, vale ressaltar que esses princípios e técnicas já foram colocados em prática com sucesso. Para mostrar o lado prático dessa teoria, os autores trazem como estudo de caso uma experiência bem sucedida com a aplicação dessa abordagem na Escola Estadual Parque do Piratininga.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Como foi dito no início desta reflexão, a questão da educação no Brasil é sistêmica. Para se conseguir avanços reais e permanentes, há necessidade de se gerenciar a partir de um pensamento sistêmico/complexo. Não há propostas pedagógicas, princípios e de técnicas bem sucedida se não for implementada a partir dessa perspectiva. É necessário um trabalho paciente e constante de conscientização e de reeducação, não só dos alunos, mas de todos os atores que constituem a comunidade escolar, até da própria família.

Nenhum comentário:

Postar um comentário