O cenário da educação brasileira é
preocupante em vários aspectos. É uma situação complexa e desafiadora, pois é
um problema sistêmico, resultante de um somatório de fatores diversos, que vão
desde a desestruturação das famílias, passando pela limitação de investimentos nessa
área, chegando às salas de aula, com o despreparo de muitos professores
desencantados com a profissão.
Essa conjuntura, inevitavelmente, tem resultado
em variados e constantes conflitos vivenciados pela comunidade escolar.
Tristemente, muitos desses embates, sobretudo os acontecidos entre professores
e alunos, vão além das agressões verbais, resultando em sérias lesões físicas,
e, até mesmo, na morte de professores. Dessa forma, o espaço escolar como
ambiente de interação, de construção e compartilhamento de conhecimento, de
crescimento espiritual, de preparação para a vida, sonho de todo teórico da
educação, de todo pai/mãe, de todo professor, parece cada vez mais distante da
realidade.
Há um número considerável de vídeos na
internet apresentando flagrantes de agressões físicas e verbais, tanto de
alunos contra professores, quanto de professores contra alunos. Sem procurar apontar
culpados por esses incidentes lamentáveis, esses casos merecem ser cuidadosamente
estudados, visando-se à prevenção de conflitos em sala de aula, bem como ao aprendizado
de como lidar com conflitos já desencadeados.
Algumas perguntas devem ser feitas, tais
como: O que tem acontecido antes para que esses lamentáveis incidentes sejam
desencadeados, e acabem em agressão física? Por que, apesar de tanto se
escrever sobre pedagogia mais interativa, aprendizagem significativa,
encantamento pela educação, e tantas outras abordagens, princípios e técnicas, os
professores continuam agindo à moda tradicional, sendo o centro do processo
ensino-aprendizagem, com suas tediosas aulas tradicionais, e suas formas
tradicionais de aplicar avaliação? Por que é tão difícil a teoria ser colocada
na prática?
A partir de uma hipótese que emerge da pura
observação, esse número, talvez não oficialmente registrado, de incidentes
escolares, aponta para a necessidade cada vez maior de os
professores/educadores dominarem, não só o conteúdo programático de suas
disciplinas, mas também teorias pedagógicas elaboradas ao longo dos séculos,
bem como conhecimentos básicos de psicologia, pois esses saberes se constituem
grandes aliados à sua prática docente.
O artigo "Entre desejo e lei: pedagogia institucional e conflitos na escola",
de Andrade e Gonzaga (2010), traz algumas respostas aos questionamentos aqui
levantados. Dialogando com princípios da psicanálise e da pedagogia
institucional, advogam a gestão não violenta de conflitos relacionais na escola
(p. 32), contribuindo, dessa forma, para apontar opções realísticas de saída
desse labirinto de conflitos e desilusões que se tornou a relação entre os
atores sociais que integram a comunidade escolar, que vai além da relação
professor-aluno.
Para os autores, educação e psicanálise são
atividades complementares. Ou seja, “A educação propõe saberes, sentidos e
identificações”; enquanto a “psicanálise investiga
processos que, na direção contrária, pervertem aqueles saberes, imagos e
significações”. (ANDRADE e GONZAGA, 2010, p. 32, grifo nosso).
A
Pedagogia Institucional é apresentada como abordagem educativa, caracterizada
por:
1) Ressaltar [...] os aspectos relacional e
estrutural que sustentam o processo de ensino e aprendizagem;
2) Advogar o princípio de que, educar é
cuidar das condições que instituem e mantêm as relações intersubjetivas em
torno do conhecimento.
Constitui-se em um conjunto de: técnicas,
organizações, métodos, e instituições internas. (p. 32), e demanda, dos atores
da comunidade escolar, engajamento pessoal, iniciativa, ação, e continuidade.
Fernand Oury, proponente dessa abordagem educativa,
a partir de suas próprias experiências em sala de aula, tendo como aportes
teóricos para suas ideias “o Movimento Freinet, a teoria da psiquiatria
institucional (Jean Oury, Félix Guatarri), as teorias sobre psicologia de grupo
(especialmente as de Lewin e Moreno) e a teoria psicanalítica (a lacaniana,
marcadamente)”. (ANDRADE e GONZADA, 2010, p. 33), apresenta algumas técnicas
para lidar com os conflitos (PAIN, 2009, apud ANDRADE e GONZAGA, 2010, p. 33),
dentre as quais estão:
1) técnicas de expressão; 2) técnicas de
trabalho em grupo; 3) técnicas de dinâmicas de grupo; 4) técnica de pensamento
social.
Alguns princípios norteiam essas técnicas: 1)
o trabalho é uma atividade educativa; 2) a necessidade da constante
participação individual em função da vida coletiva.
Por fim, vale ressaltar que esses
princípios e técnicas já foram colocados em prática com sucesso. Para mostrar o
lado prático dessa teoria, os autores trazem como estudo de caso uma
experiência bem sucedida com a aplicação dessa abordagem na Escola Estadual
Parque do Piratininga.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Como foi dito no início desta reflexão, a
questão da educação no Brasil é sistêmica. Para se conseguir avanços reais e
permanentes, há necessidade de se gerenciar a partir de um pensamento
sistêmico/complexo. Não há propostas pedagógicas, princípios e de técnicas bem
sucedida se não for implementada a partir dessa perspectiva. É necessário um
trabalho paciente e constante de conscientização e de reeducação, não só dos
alunos, mas de todos os atores que constituem a comunidade escolar, até da
própria família.
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