sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Análise institucional: sua importância para o gestor aprendente

No artigo intitulado "conceito de implicação em práticas da análise institucional contemporânea" de Santos et all (2011) os autores conceituam a análise institucional como sendo “[...] uma nova maneira de ver, entender e atuar na dinâmica dos grupos; além de atuar no âmbito escolar, estaria agindo em qualquer coletividade que tivesse uma ‘brecha’ para a entrada do questionamento, ‘quebra’ de ideias e demandas cristalizadas.” (SANTOS et all, 2011, p. 6).  E, ainda, “Este método propõe analisar e intervir nos conjuntos sociais, com o intuito de melhorar a qualidade de vida das pessoas, contando para tal finalidade com a participação ativa destas.” (SANTOS et all, 2011, p. 4).

Originalmente dirigido a psicólogos-analistas-pesquisadores, as ideias trabalhadas no artigo de Santos et all (2011), em torno do tema “Análise Institucional contemporânea”, se constituem uma ferramenta por excelência de gestão, mas também um verdadeiro desafio para o gestor.

Esta reflexão faz uma análise interpretativa do artigo citado, buscando estabelecer uma ponte com o paradigma das organizações que aprendem, a partir de três perspectivas, a saber: 1) a análise institucional como ferramenta de gestão; 2) a análise institucional como desafio para a gestão; 3) a análise institucional e sua relação com o conceito de implicação.

1 A ANÁLISE INSTITUCIONAL COMO FERRAMENTA

1.1 É um método de intervenção que se vale da pesquisa-ação, colocando o gestor/educador na posição de pesquisador/interventor.

1.2 Pode ser entendida e utilizada como método para o gestor/educador compreender as “dinâmicas institucionais nos diferentes momentos históricos”. (SANTOS et all, 2011, p. 11).

2 A ANÁLISE INSTITUCIONAL COMO DESAFIO

2.1 Demanda um aporte teórico-prático bem diversificado. Além das competências de gestão, percebe-se a necessidade de conhecimentos de psicologia e sociologia, e o desenvolvimento de habilidades de pesquisador. De tal forma que poderíamos chamar esse gestor de: psicossociólogo pesquisador.

2.2 É um método que implica “[...] gerar ou promover – dentro de um grupo – um espaço para discussão, para o ‘exercício’ da transversalidade e reflexão da sociedade.”(SANTOS et all, 2011, p. 6).  E isso, como todos sabemos, não é uma tarefa fácil.

Para criar esse espaço, o gestor precisa ser maduro o suficiente para estar aberto a uma diversidade de críticas e sugestões. Isto porque, outro pilar em que está estruturada a análise institucional é o da desconstrução de valores (paradigmas). E aqui estão incluídos, não só os valores de seus colaboradores, mas também os seus próprios.

Muitos desses valores se constituem em demandas criadas “instituídas” pelo sistema em que estão inseridos. Eles mais beneficiam ao sistema do que àqueles em que foram instilados. Acredito que aqui pode-se estabelecer um diálogo com Peter Senge, quando esse desenvolve o conceito de modelos mentais[1].

2.3 Esse método também é caracterizado pela proposta de desenvolver a consciência dos atores institucionais com relação às demandas sociais instituídas, denominadas de “forças instituídas [que] corresponde à cristalização e naturalização de uma demanda – sem relacionar com a realidade social”. (SANTOS et all, 2011, p. 5). É a estratégia adotada pelo sistema para alienar as pessoas. Neste sentido, Baremblitt[2] (2002 apud SANTOS et all, p. 5) observa que “a Instituição utiliza-se de mecanismo para permanecer com as suas normas, leis e hábitos alienantes.”

Nessa perspectiva, o gestor é desafiado a criar espaço para questionar e permitir o questionamento de valores postos. E, considerando que conhecer é poder, essa postura implica em compartilhamento do poder. Seu grande desafio consiste, portanto, em:

[...] evidenciar o que está encoberto (os valores instituídos), mostrar para o grupo esses pontos e fazer com que o mesmo passe a ser questionador, responsável e consciente das suas ações, em outras palavras, ocorre produção de autonomia. Pode-se tomar, portanto, esse método como sendo portador de transversalidade e que proporciona uma abertura, uma desconstrução dos valores predeterminados. [...] corrobora com a ideia de autoanálise e autogestão. (LAPASSADE, 1989, apud SANTOS et all, p. 6, grifo nosso)

Para uma melhor compreensão do que foi dito, é de bom alvitre explicar dois conceitos: autoanálise e autogestão. O primeiro “consiste na  aquisição ou retomada do pensamento e da ação coletiva, permitindo-lhes ter ciência dos seus desejos, interesses, necessidades sem que esses sejam provenientes de qualquer exterioridade.” (SANTOS et all, 2011, p. 5); o segundo, “consiste na coordenação, na articulação dos coletivos para criar mecanismos que promovam a manutenção e melhoramento de sua vida com o meio.” (SANTOS et all, 2011, p. 5)

3 A ANÁLISE INSTITUCIONAL E O CONCEITO DE IMPLICAÇÃO

A objetividade na análise e o distanciamento do pesquisador de seu objeto de pesquisa são imposições clássicas na pesquisa científica. Esse é um ideal positivista perseguido ao longo dos anos, porém sabe-se que em diferentes medidas os pressupostos do pesquisador influenciam a pesquisa. Na Análise Institucional, por outro lado, “A negação da neutralidade do analista/pesquisador [nesta reflexão, o gestor/educador] procura romper as barreiras entre sujeito que conhece e objeto a ser conhecido”. (SANTOS et all, 2011, p. 8).

Nesta reflexão, coloco o gestor/educador aprendente como analista/pesquisador. Nessa perspectiva, o conceito de implicação pode ser caracterizado pelo fato de o gestor/educador estar implicado pelo grau de envolvimento com seu “objeto” de estudo: seus colaboradores e a própria instituição. Não só isso, mas também a influência de todo seu arcabouço de experiências e conhecimentos — que constituem seus pressupostos, e que vão refletir em sua interpretação da dinâmica institucional. E, ainda, conforme os autores observam:

 [...] condutas sociais elaboradas no espaço tensivo da relação entre diferentes atores sociais e seus espaços de interatuação sociocultural. Por isso mesmo exprime uma relativa dependência com os reflexos e migração de hábitos adquiridos, esquemas de pensamento e de percepção sistemáticos, predominantes na coletividade dos sujeitos e na prática de interação com o pesquisador[3]. (SANTOS et all, 2011, p. 10)

E, ainda:

[...] o conceito de implicação migra-se entre a formulação do próprio projeto-comum dos sujeitos. Pertencimento e engajamento, pois, tornam-se processos de implicação, absorvendo cinco diferentes instâncias: desejo, vontade, decisão, ação e mediação. (SANTOS et all, 2011, p. 11)

Ao longo da formação e da existência dos grupos e organizações alguns valores vão sendo cristalizados, a partir de demandas criadas pelo sistema (instituinte), que se tornam os modelos mentais, que, segundo Peter Senge (2010), são os principais obstáculos para a inovação em uma organização. Então, o gestor/educador tem o desafio duplo de desconstruir seus próprios modelos mentais, bem como os de seus colaboradores, visando a estabelecer demandas mais coerentes com a realidade social, sobretudo a realidade de uma sociedade que experimenta rápidas e constantes mudanças.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Facilmente se percebe que o método de análise institucional está em linha com o paradigma da organização que aprende. Visto que se propõe a trabalhar com demandas cristalizadas, que correspondem aos modelos mentais; bem como trabalha com a ideia do pensamento complexo/sistêmico, conceitos recorrentes no pensamento de Peter Senge e Edgar Morin. Portanto, é um método que merece atenção por parte do gestor aprendente no sentido de aprofundar-se em seus princípios e conceitos, visando à aplicação prática, sobretudo como ferramenta de diagnóstico de sua organização, com vistas à intervenção.

REFERÊNCIAS

SANTOS, Paloma Araújo Cortez dos. et all. O conceito de Implicação em práticas da Análise Institucional contemporânea.

SENGE, Peter (1990). A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende. 26ª ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2010. Tradução de Gabriel Zide Neto e OP Traduções.




[1] São “[...] imagens internas profundamente arraigadas sobre o funcionamento do mundo, imagens que nos limitam a formas bem conhecidas de pensar e agir.” (SENGE, 2010, p. 219)
[2] BARBIE, René. Palavra educativa e sujeito existencial. In: BORBA, Sérgio; ROCHA, Jamesson. Educação e pluralidade. Brasília: Plano, 2003. BAREMBLITT, G.F. O Movimento Instituinte. IN: BAREMBLITT, G.F. O Compêndio de Análise Institucional e outras correntes: Teoria e prática. Belo Horizonte: Instituto Félix Guattari, 2002.
[3] Para esta reflexão, leia-se gestor/educador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário