sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Desmilitarização

A desmilitarização das polícias brasileiras vai resolver o quê?

O carro chefe dos argumentos pro desmilitarização das polícias é sua violência e  truculência. A verdade é que ser violento e truculento não reside no fato de ser policial ou militar. Reside no fato de ser humano. Basta a ocasião e todos tendemos a agir de forma truculenta. 

Centenas de exemplos poderiam ser dados para provar que a alardeada violência policial militar não está, necessariamente, ligada ao militarismo e sim, à natureza humana. Para que esse comportamento seja desencadeado, basta que as condições necessárias estejam presentes. No entanto, apresento aqui apenas alguns exemplos ilustrativos: 

1. As pessoas conseguem transformar momentos sadios de lazer e alegria, em verdadeiras cenas de campo de batalha. Por exemplo: Torcedores (pessoas comuns) mas com os ânimos exaltados, digladiam-se nos estádios e matam a pauladas outros torcedores inocentes, agindo de forma violenta e truculenta, apesar de não serem militares. Confira exemplo emblemático aqui. Lembrando que o torcedor nesse incidente lamentável não foi morto por uma ação da polícia militar, mas pelas mesmas pessoas que condenam a instituição quando age de forma mais enérgica.

Policiais civis (com todo respeito à grande maioria dos integrantes das policias civis) podem ser tão truculentos quanto os policiais militares que adotam essa postura, basta ter a ocasião propícia. Por exemplo, em 15 de junho de 2009, dois delegados despiram de forma humilhante uma escrivã para retirar a propina que ela, supostamente, havia escondido na calcinha. Considerando que a mulher era uma colega de trabalho, imaginem o que seriam capazes de fazer a um cidadão comum?! Veja matéria aqui . Lembrete: eles são civis, não tiveram formação em academia de polícia militar.

3. A polícia americana não é militar, nos moldes da nossa, mas basta assistir a algumas abordagens feitas por eles para ficar-se impressionado com tanta truculência e despreparo. 

Esse policial aí, da foto, chutou, covardemente, a cabeça de uma mulher, estando ela já dominada, sentada e algemada; portanto, além de ser mulher estava em uma situação de total vulnerabilidade. 

Detalhe 1: Edward M Krawetz não é militar e pertence à polícia de Providence, capital do estado americano de Rhode Island. Foi condenado a suspensão e acompanhamento psicológico; continua com o emprego e não foi preso. Veja a matéria completa No prison time for Lincoln police officer. 

Detalhe 2: Esse incidente deplorável foi utilizado de forma descarada e desonesta pelos partidários da desmilitarização das polícias para manipular a opinião pública, apresentando-a como flagrante de violência da polícia militar carioca. Isto é uma vergonha! Confira a manipulação aqui.

4. O que dizer da truculência no trânsito? Frequentemente, pessoas envolvidas em acidentes de trânsito partem para a "porrada" e para o tiro sem nenhuma cerimônia, quando tudo poderia ser resolvido na conversa. Confira aqui um exemplo desse comportamento.  Considere que elas não tiveram formação militar e não são militares. 

Então, amigo, o problema da violência e truculência não está na formação militar, está na essência do ser humano falho e violento. Repito, basta a ocasião. Não é à toa que Thomas Hobbes chegou à conclusão de que "O homem é o lobo do homem".

Portanto, o movimento para desmilitarização das PMs é uma falácia, pois não vai resolver o problema da violência urbana, nem tornar os profissionais de segurança pública mais dóceis. Coloque qualquer civil, com armas e cassetetes na mão, para atuar nas mesmas condições de estresse do PM e veremos quem é mais violento! 

Por outro lado, a estratégia escusa de desarticulação das polícias e disseminação de seu descrédito tem se mostrado um "tiro no pé", pois está fortalecendo a criminalidade, que tem se tornado cada vez mais ousada, pois tem a certeza, não só da impunidade, mas também que sempre terá representantes dos direitos humanos para defendê-los a todo custo.

Os partidários da desmilitarização voluntariamente ignoram os esforços atuais da Senasp e dos Centros de Formação e das Academias das Polícias Militares no sentido de reestruturar os currículos de formação dos Policiais Militares com base nos princípios e diretrizes da Matriz Curricular Nacional para a Formação em Segurança Pública.

Ignoram que, atualmente, os integrantes das Polícias Militares não estão sendo formados mais nos moldes do Exército Brasileiro, com base no referencial da repressão. Têm-se buscado conciliar o melhor do militarismo: disciplina e hierarquia, que trazem em sua esteira outros valores morais que tornam o homem e a mulher melhores cidadãos, com o melhor das concepções hodiernas para formação do profissional de segurança pública. 

Por essa razão, muito mais coerente do que insistir em desmontar organizações centenárias, como o são as polícias militares, deve-se buscar melhorá-las e fortalecê-las. É necessário um movimento pro moralização das polícias militares que estão em franco processo de desmoralização por nossas autoridades e por equivocados defensores dos direitos humanos, que choram quando um marginal é morto ou ferido, mas que se mostram insensíveis e alheios à dor de famílias que perdem seus heróis e suas heroínas (policiais militares) no cumprimento de seu dever. 

Aprovo em sua integridade a doutrina dos direitos humanos, mas esses senhores estão prestando um desserviço à causa, quando simplesmente ignoram que os policiais militares também são humanos e que, portanto, possuem direitos que também têm sido violados e que precisam também de "advogados" para sua causa, que levantem também a bandeira dos direitos humanos dos policiais militares. 

Onde estão os representantes dos direitos humanos para apoiar a Policial Militar carioca que teve seu marido decapitado por marginais, e para apoiar e lutar pelos direitos de tantos outros PMs que diariamente morrem em serviço? O que estão fazendo para reivindicarem melhores salários e condições de trabalho para os profissionais que arriscam diariamente suas próprias vidas para preservar a segurança de uma sociedade que os execram, e desrespeitam sua autoridade de forma insidiosa? Onde está a comoção social? Essa postura faz com que os próprios policiais acabem por acreditar que "direitos humanos só existem para marginais".

Infelizmente, essa situação me lembra uma frase de uma música que diz: "lá vem o Brasil descendo a ladeira". Essa descida desenfreada me angustia, pois imagino quão pavorosa será a colisão no final da ladeira !

4 comentários:

  1. Perfeito! A desmilitarização não é a solução para um problema que é fruto da natureza humana, é necessário haver uma mudança no tratamento dado ao policial não só pela instituição que o forma como também pela própria sociedade.

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    1. Exato. Como você pode perceber no artigo, essa mudança já é uma realidade com relação à formação de seus integrantes. A adoção dos princípios e diretrizes da Matriz Curricular Nacional elaborada pela Senasp, tem se constituído uma verdadeira aprendizagem organizacional. Porém, deve-se considerar o fato de que mudar ou interferir em uma cultura organizacional centenária é um processo lento, porém totalmente possível. Não só as forças públicas de segurança estão no caminho do aprendizado da democracia, mas também a própria sociedade brasileira. Por fim, não se deve esquecer que todos os integrantes das polícias militares são brasileiros, portanto, carregam para o contexto da instituição toda uma cultura herdada e aprendida ao longo de suas vidas. Seis a oito meses de curso de formação [soldados] não são capazes de sufocar essa herança, como alguns sustentam que a formação militar é mortificação do eu. (do self, para usar um termo técnico).

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  2. Eu vi a montagem, mt feia por sinal. Pior foi ver gente que conheço compartilhando no facebook como se fosse realmente o fato. Reclamam que a mídia manipula, mas são facilmente manipulados por esses grupos ativistas.
    Otimo texto. Desmilitarizar realmente não irá acabar com a violência, ela vai tá e sempre estará.

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    1. Obrigado pelo comentário positivo, Carol. Desculpe não ter respondido antes, é que estava envolvido com minha dissertação de mestrado, por isso, infelizmente, tive que deixar o blog um pouquinho de lado para me dedicar integralmente à minha pesquisa.

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