sábado, 13 de julho de 2013

A expansão da educação superior brasileira e suas implicações

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Gomes e Moraes (ano?) produziram um artigo intitulado A expansão da educação superior no Brasil contemporâneo: questões para debate., que considero coerente e esclarecedor sobre o tema que se propuseram estudar. Analisaram sua evolução histórica, apoiados no modelo teórico desenvolvido por Martin Trow (1973, 2005), que apresenta três fases de evolução da educação superior (sistema de elite – sistema de massa – sistema de acesso universal), bem como estabelece alguns critérios (dimensões) de análise dessas fases, a saber: “[...] tamanho do sistema, funções da educação superior, currículo e formas de instrução, a ‘carreira’ do estudante, diversificação institucional, o lócus do poder e de decisão, padrões acadêmicos (qualidade), políticas de acesso e seleção, formas de administração acadêmica e governança” (GOMES e MORAES, p. 2).

Baseados, sobretudo, no critério “tamanho do sistema” — verificado pelo “volume de matrículas” — em relação à faixa etária de 18 a 24 anos, os autores observam que a educação superior brasileira manteve-se como um sistema elitizado durante o período que vai de 1810 a 1995. Ou seja, apresentando um número reduzido e estável de matrícula, com cursos e currículos direcionados ao preparo dos jovens oriundos da elite para ocuparem posições tradicionalmente ocupadas pela elite.

Entre 1980 e 2002, a percentagem de matrículas, em relação à população jovem de 18 a 24, melhora significativamente, passando da de 8,6 % para 15,06 %. Porém, os autores ainda consideram esse período dentro do sistema de elite. No entanto, a partir de 2003 o volume de matrículas atinge a casa dos 16% da população na faixa etária mencionada. Foi um salto de uma média de 8% anuais até 1995, verificada no período elitista. Essa nova realidade é vista pelos autores como sendo uma transição para o sistema de massa, caracterizado não só pelo volume de matrículas, mas também pela representatividade dos diversos segmentos da sociedade na população universitária. Essa transição coincidiu com o primeiro governo de FHC, e experimentou sua consolidação no governo de Lula, graças a uma série de medidas políticas e administrativas desses governos.

Em um primeiro momento, a impressão que se tem é que a educação superior brasileira, antes um privilégio da elite, passou a ser tratada como um direito do cidadão. No entanto, quando se analisa os números nas estatísticas oficiais do Ministério da Educação, apresentados pelos autores, essa conclusão não parece totalmente correta. Isto porque, esses números, apesar de mostrarem um aumento significativo do acesso à educação superior, o volume de matrículas nas instituições privadas de ensino superior é muito maior, chegando a ter uma proporção bem superior em relação às instituições públicas. Só para se ter uma ideia, no ano de 1995, do total de 1.759.703 matrículas no ensino superior, apenas 700.540 foram feitas em instituições públicas, contra 1.059.163 nas instituições privadas; e do total de 4.880.381, em 2007, 1.240.968 foram em instituições públicas, contra 3.639.413 nas instituições privadas. (Estatísticas do MEC/INEP, citadas pelos autores, p. 8).

Como se vê,  a impressão de educação como direito se esvai diante das estatísticas, apresentando um quadro de mercantilização da educação, como tem acontecido com outros direitos básicos da cidadania, a exemplo da saúde. Esse tem sido o resultado de políticas neoliberais que tem caracterizado o capitalismo contemporâneo.

Implicações da expansão da educação no atual quadro da sociedade brasileira, inserida no mundo globalizado.

Como foi possível observar, a educação superior brasileira tornou-se uma educação de massa com características mercantilistas. Esse é um quadro perceptível também na educação fundamental, cuja universalização, sem o oferecimento das condições necessárias, tem empurrado os que têm melhor poder aquisitivo para as instituições privadas de ensino. Apesar dessa crítica, deve-se admitir que tem havido investimentos do governo federal. É verdade, no entanto, que esses investimentos, a considerar a percentagem ínfima em relação ao PIB[1], destinada à educação, estão aquém do ideal. Uma das conseqüências tem sido esse aumento de ofertas de vagas nas instituições privadas de educação superior.

Bom, o questionamento que se levanta é: quais as implicações da expansão da educação superior no quadro atual da sociedade brasileira em um cenário de globalização?

Primeiramente, é necessário levar em conta que o mundo globalizado demanda profissionais globalizados. Em outras palavras, que estejam familiarizados com as novidades tecnológicas, bem como com as políticas econômicas adotadas pelos países que dominam a economia mundial, e, que, portanto, afetam a todas as demais nações ditas periféricas. E, ainda, que sejam profissionais necessários para as demandas dessa globalização.

Dessa reflexão, emergem alguns questionamentos: os egressos de nossos cursos universitários estão preparados para esse mundo globalizado? Haverá oportunidades de emprego para um número cada vez maior de profissionais formados por nossas universidades? Esse mundo globalizado demanda mais profissionais de nível técnico ou acadêmico? O número de egressos corresponde ao de matriculados no início dos cursos, ou, pelo menos, em uma percentagem aceitável?

Obviamente, as respostas a esses questionamentos não podem ser dadas em um espaço tão reduzido, e sem uma pesquisa mais aprofundada. Porém, com as informações que se têm, é possível levantar algumas hipóteses:

A quebra do ciclo de monopólio de formação em nível superior da elite brasileira — apesar de alguns cursos aparentemente continuarem elitizados, a exemplo do curso de medicina —, pode ser apontada como fator positivo da expansão contemporânea do ensino superior brasileiro. Esse benefício é constatado pelo aumento do número de alunos matriculados, e pela diversidade social que eles representam, sobretudo nas instituições públicas. Mesmo considerando o fato de que esse número é bem inferior ao das instituições privadas, esse processo pode ser caracterizado como a consolidação de um sistema de educação de massa. Portanto, a perspectiva de crescimento pessoal para esses alunos oriundos de diferentes camadas de nossa sociedade, face às demandas de um mundo globalizado, se torna mais real.

Por outro lado, o afã por dar respostas rápidas às demandas da sociedade, para cumprir programas de campanha, e atingir metas de governo, trouxe alguns prejuízos ao processo, visto que apresenta algumas falhas cruciais. A impressão que se tem, é que o aumento de cursos e de ofertas de vagas vem acontecendo sem o devido planejamento. Facilmente se constata a insuficiência de professores nas universidades federais para atenderem à demanda dos cursos e vagas oferecidas, bem como a inadequação da estrutura física, que se encontra atualmente como um verdadeiro canteiro de obras.

Ciente dessa inadequação, o governo federal busca supri-la com programas de financiamento e distribuição de bolsas, bem como de empréstimos aos alunos, que, mesmo sem uma perspectiva real de emprego ao concluir o curso, mal começam a vida de adultos, e já estão endividados. Nessa mesma esteira, está a profusão de faculdades particulares, com qualidade de ensino ainda suspeita, que se beneficiam desses programas do governo.

Diante do exposto, é cabível a hipótese de que essa conjuntura afeta negativamente a qualidade dos profissionais egressos de nossas universidades, deixando-os aquém das demandas do mercado de trabalho, que se mostra cada vez mais exigente. Obviamente, é uma hipótese que precisa de constatação.

Por fim, é sabido que um dos fatores responsáveis pelo crescimento dos países do conhecido “primeiro mundo” é o investimento pesado, constante, e sério em pesquisas. Com isso, conseguem avanços tecnológicos que estabelecem seu diferencial entre as nações civilizadas. O patenteamento das descobertas e invenções resultantes, e sua consequente comercialização pesam positivamente no PIB, portanto, no enriquecimento dessas nações. Um exemplo desse diferencial é a tecnologia que desenvolveu o computador que estou usando para escrever este texto. De quem é? É brasileira? Então, essa expansão da educação superior brasileira tem que ser acompanhada do investimento sério em pesquisa, que é parte integrante desse nível de educação.



[1] De acordo com Souza (?) não passaram de 3 % do PIB, na vigência do Plano Nacional de Educação (PNE) aprovado em 2001.   SOUZA, Antônio Lisboa Leitão de. A educação no Brasil: expectativas e possibilidades de um novo Plano Nacional de Educação – decênio 2011 – 2020.

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