sexta-feira, 26 de julho de 2013

Skinner versus Vygotsky: breve reflexão sobre aprendizagem

Diferentes enfoques têm sido dados ao estudo da aprendizagem. No entanto, nesta breve reflexão abordo apenas duas linhas teóricas: O estudo da aprendizagem do ponto de vista do condicionamento comportamental, resultante de respostas a estímulos, tendo em Skinner seu representante principal; e o estudo do ponto de vista das respostas mediadoras, influenciadas pelo contexto histórico-social, tendo Vygotsky como seu mais destacado estudioso.

Pode-se dizer que o foco do primeiro grupo foram os resultados práticos da aprendizagem: mudança e/ou condicionamento de comportamento; enquanto do segundo, foi processo da aprendizagem propriamente dito. No entanto, os dois vieses trouxeram contribuições teóricas e práticas de grande relevância para a compreensão do tema.

Skinner desenvolveu uma teoria que ficou conhecida como behaviorismo, neologismo criado a partir da palavra inglesa behaviour, que significa comportamento. Para esse estudioso, existem dois tipos de aprendizagem: a que consiste no comportamento respondente e a que consiste no comportamento operante. O primeiro está baseado em estímulos: “Dado o estímulo a resposta ocorre automaticamente”. (HILL, 1981, p. 66). No segundo caso, apesar de os estímulos terem um papel importante, o comportamento operante acontece por várias outras razões. Exemplos de comportamentos operantes são: andar, falar, trabalhar, brincar, comer, também denominadas “respostas operantes”.

Apesar de os experimentos de Skinner terem sido feitos com animais, as conclusões a que chegou, e os princípios que desenvolveu em laboratório, foram aplicados com relativo sucesso na lide com seres humanos. Hill (1981, p. 81) observou que as ideias de Skinner foram aplicadas “No tratamento dos distúrbios do comportamento e na educação [...] também tiveram importantes efeitos práticos em psicoterapia e ensino.”

Ainda hoje é patente a aplicação de seus princípios no aprendizado de línguas e de outras disciplinas, através da técnica da aprendizagem programada, a exemplo dos exercícios de preenchimento de lacunas em frases com palavras que podem ser checadas depois pelo aluno (HILL, 1981, p. 84). Os treinadores e adestradores de animais usam abundantemente a técnica de modulação, através da qual se consegue que animais “aprendam” a realizar tarefas complexas mediante o uso de estímulos e reforçadores (recompensas) geralmente comida e afagos.

As críticas às ideias de Skinner apontam para o caráter “mecanizado” de suas técnicas. Ao trazer esses métodos para o ensino, Hill (1981, p. 81) observa que: “Seu objetivo consistiu em tratar a aprendizagem em sala de aula da mesma forma que qualquer outra situação em que se deseja modelar determinado comportamento”. No entanto, essa concepção não considera outras variáveis que podem interferir nos resultados da aplicação dos princípios e técnicas de Skinner, tais como: a personalidade e experiência de vida de cada aluno, a importância pessoal dada a determinado objeto de aprendizagem, e o contexto social.

Além disso, os críticos apontam para a temporalidade da manutenção de determinado comportamento, em função da manutenção do reforço/estímulo que o produziu, donde é possível questionar se esse tipo de mudança de comportamento corresponde a uma aprendizagem efetiva, ou apenas a formas de condicionamentos resultantes de estímulos e modelagens.

Outra crítica, mais radical ainda, alerta para o fato de que “Uma pessoa exposta a contingências de reforço planejadas perde a liberdade e fica sob o controle da pessoa que controla os reforçadores”. (HILL, 1981, p. 83).
Finalmente, outra desvantagem que pode ser apontada na abordagem de Skinner à aprendizagem, é que seus princípios não diferenciam crianças de adultos; todavia, como será visto na abordagem de Vygotsky, o processo de aprendizagem sofre mudanças ao longo do processo de maturação do ser humano, em outras palavras, o processo de aprendizado difere entre crianças e adultos.

Vygotsky, que fez experimentos envolvendo seres humanos, notadamente crianças, e que considerava a cultura como parte essencial da constituição da natureza humana, representa o outro extremo da abordagem do tema, dando-lhe uma abordagem mais psicológica. Oliveira (2000, p. 24) dá conta de que nos pressupostos de Vygotsky se pode “[...] pensar o desenvolvimento psicológico como um processo abstrato, descontextualizado, universal: o funcionamento psicológico, particularmente no que se refere às funções psicológicas superiores, tipicamente humanas, está baseado fortemente nos modos culturalmente construídos de ordenar o real.” 

Enquanto o foco de Skinner era a mudança e/ou condicionamento do comportamento animal, tendo suas descobertas sido aplicadas posteriormente para modelar o comportamento humano, o de Vygotsky era “compreender os mecanismos psicológicos mais sofisticados, mais complexos, que são típicos do ser humano e que envolvem o controle consciente do comportamento, a ação intencional e a liberdade do indivíduo em relação às características do momento e do espaço presentes”.  Por exemplo: pode-se treinar um animal para acender a luz de um quarto, mas esse mesmo animal não terá por si próprio a iniciativa de não acender a luz do quarto se perceber que alguém está ali dormindo. Essa ação é essencialmente humana, complexa, superior.

Dentre as descobertas de Vygotsky, de grande importância para a educação, foi o fato de que o processo de aprendizagem evolui conforme a maturação do ser. Essa concepção, apesar de tão óbvia em nossos dias, nem sempre foi assim. Durante muito tempo na história da educação cria-se que as crianças eram adultos em miniatura, e que eram tabulas rasas. A partir dessa compreensão arcaica, o aprendizado não passava de mera decoreba daquilo que o professor transmitia em sala de aula.

A vantagem que o professor/pedagogo/educador de hoje tem a partir dessa nova compreensão, é a consciência de que competências específicas só poderão ser desenvolvidas em determinada idade. Esta compreensão além de direcionar que materiais e competências devem ser trabalhadas para cada faixa etária, preservará os educadores de tachar essa ou aquela criança de “burra”.

Outra contribuição teórica de Vygotsky, que reputo como salto de qualidade em relação às de Skinner, foi o desenvolvimento dos conceitos de mediação, em que instrumentos e signos são utilizados para se obter uma resposta comportamental em contexto social, não de laboratório; e de internalização, quando esses instrumentos e signos passam a fazer parte do sistema cognitivo do ser humano, quando sua presença material já não é exigida.

Esses são conceitos-chave para a compreensão de sua proposta. No estágio da internalização, o indivíduo passa a ser ator de sua própria aprendizagem, não um simples coadjuvante. Esse processo não é considerado na proposta de Skinner, já que, uma das críticas à sua proposta é que a mudança de comportamento é temporária, visto que, na ausência de estímulos e reforços, tendem a cessar.

Concluindo, ambos teóricos trouxeram contribuições importantes para a compreensão do processo de aprendizagem, principalmente porque suas abordagens do mesmo tema foram feitas a partir de perspectivas bem diversas. Resta tão somente àqueles que estão envolvidos no contexto de aprendizado tanto organizacional quanto escolar, se aprofundar no estudo desses teóricos, e buscar um emprego equilibrado de suas propostas.

REFERÊNCIAS

HILL, Winfred F. Aprendizagem: uma resenha das interpretações psicológicas. Universidade Northwestern, EUA. Traduzido por José Luiz Meurer. 3. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1981. 

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. Scipione: 2000.


Nenhum comentário:

Postar um comentário