Diferentes enfoques têm sido
dados ao estudo da aprendizagem. No entanto, nesta breve reflexão
abordo apenas duas linhas teóricas: O estudo da aprendizagem do ponto de vista do
condicionamento comportamental, resultante de respostas a estímulos, tendo em
Skinner seu representante principal; e o estudo do ponto de vista das respostas
mediadoras, influenciadas pelo contexto histórico-social, tendo Vygotsky como seu
mais destacado estudioso.
Pode-se dizer que o foco do
primeiro grupo foram os resultados práticos da aprendizagem: mudança e/ou
condicionamento de comportamento; enquanto do segundo, foi processo da
aprendizagem propriamente dito. No entanto, os dois vieses trouxeram
contribuições teóricas e práticas de grande relevância para a compreensão do
tema.
Skinner desenvolveu uma teoria que ficou conhecida como behaviorismo, neologismo criado a partir da palavra inglesa behaviour, que significa comportamento. Para esse estudioso, existem dois tipos
de aprendizagem: a que consiste no comportamento respondente e a que consiste no
comportamento operante. O primeiro está baseado em estímulos: “Dado o estímulo
a resposta ocorre automaticamente”. (HILL, 1981, p. 66). No segundo caso,
apesar de os estímulos terem um papel importante, o comportamento operante
acontece por várias outras razões. Exemplos de comportamentos operantes são:
andar, falar, trabalhar, brincar, comer, também denominadas “respostas
operantes”.
Apesar de os experimentos de
Skinner terem sido feitos com animais, as conclusões a que chegou, e os
princípios que desenvolveu em laboratório, foram aplicados com relativo sucesso
na lide com seres humanos. Hill (1981, p. 81) observou que as ideias de Skinner
foram aplicadas “No tratamento dos distúrbios do comportamento e na educação
[...] também tiveram importantes efeitos práticos em psicoterapia e ensino.”
Ainda hoje é patente a aplicação
de seus princípios no aprendizado de línguas e de outras disciplinas, através
da técnica da aprendizagem programada, a exemplo dos exercícios de
preenchimento de lacunas em frases com palavras que podem ser checadas depois
pelo aluno (HILL, 1981, p. 84). Os treinadores e adestradores de animais usam
abundantemente a técnica de modulação, através da qual se consegue que animais
“aprendam” a realizar tarefas complexas mediante o uso de estímulos e
reforçadores (recompensas) geralmente comida e afagos.
As críticas às ideias de Skinner
apontam para o caráter “mecanizado” de suas técnicas. Ao trazer esses métodos
para o ensino, Hill (1981, p. 81) observa que: “Seu objetivo consistiu em
tratar a aprendizagem em sala de aula da mesma forma que qualquer outra
situação em que se deseja modelar determinado comportamento”. No entanto, essa concepção
não considera outras variáveis que podem interferir nos resultados da aplicação
dos princípios e técnicas de Skinner, tais como: a personalidade e experiência
de vida de cada aluno, a importância pessoal dada a determinado objeto de
aprendizagem, e o contexto social.
Além disso, os críticos apontam para
a temporalidade da manutenção de determinado comportamento, em função da manutenção
do reforço/estímulo que o produziu, donde é possível questionar se esse tipo de
mudança de comportamento corresponde a uma aprendizagem efetiva, ou apenas a
formas de condicionamentos resultantes de estímulos e modelagens.
Outra crítica, mais radical
ainda, alerta para o fato de que “Uma pessoa exposta a contingências de reforço
planejadas perde a liberdade e fica sob o controle da pessoa que controla os
reforçadores”. (HILL, 1981, p. 83).
Finalmente, outra desvantagem que
pode ser apontada na abordagem de Skinner à aprendizagem, é que seus princípios
não diferenciam crianças de adultos; todavia, como será visto na abordagem de
Vygotsky, o processo de aprendizagem sofre mudanças ao longo do processo de
maturação do ser humano, em outras palavras, o processo de aprendizado difere
entre crianças e adultos.
Vygotsky, que fez experimentos
envolvendo seres humanos, notadamente crianças, e que considerava a cultura
como parte essencial da constituição da natureza humana, representa o outro
extremo da abordagem do tema, dando-lhe uma abordagem mais psicológica. Oliveira (2000, p. 24) dá conta de que nos
pressupostos de Vygotsky se pode “[...] pensar o desenvolvimento psicológico
como um processo abstrato, descontextualizado, universal: o funcionamento
psicológico, particularmente no que se refere às funções psicológicas
superiores, tipicamente humanas, está baseado fortemente nos modos
culturalmente construídos de ordenar o real.”
Enquanto o foco de Skinner era a
mudança e/ou condicionamento do comportamento animal, tendo suas descobertas
sido aplicadas posteriormente para modelar o comportamento humano, o de
Vygotsky era “compreender os mecanismos psicológicos mais sofisticados, mais
complexos, que são típicos do ser humano e que envolvem o controle consciente
do comportamento, a ação intencional e a liberdade do indivíduo em relação às
características do momento e do espaço presentes”. Por exemplo: pode-se treinar um animal para
acender a luz de um quarto, mas esse mesmo animal não terá por si próprio a
iniciativa de não acender a luz do quarto se perceber que alguém está ali
dormindo. Essa ação é essencialmente humana, complexa, superior.
Dentre as descobertas de
Vygotsky, de grande importância para a educação, foi o fato de que o processo
de aprendizagem evolui conforme a maturação do ser. Essa concepção, apesar de
tão óbvia em nossos dias, nem sempre foi assim. Durante muito tempo na história
da educação cria-se que as crianças eram adultos em miniatura, e que eram tabulas rasas. A partir dessa
compreensão arcaica, o aprendizado não passava de mera decoreba daquilo que o
professor transmitia em sala de aula.
A vantagem que o
professor/pedagogo/educador de hoje tem a partir dessa nova compreensão, é a
consciência de que competências específicas só poderão ser desenvolvidas em
determinada idade. Esta compreensão além de direcionar que materiais e
competências devem ser trabalhadas para cada faixa etária, preservará os
educadores de tachar essa ou aquela criança de “burra”.
Outra contribuição teórica de
Vygotsky, que reputo como salto de qualidade em relação às de Skinner, foi o
desenvolvimento dos conceitos de mediação, em que instrumentos e signos são utilizados
para se obter uma resposta comportamental em contexto social, não de
laboratório; e de internalização, quando esses instrumentos e signos passam a
fazer parte do sistema cognitivo do ser humano, quando sua presença material já
não é exigida.
Esses são conceitos-chave para a
compreensão de sua proposta. No estágio da internalização, o indivíduo passa a
ser ator de sua própria aprendizagem, não um simples coadjuvante. Esse processo
não é considerado na proposta de Skinner, já que, uma das críticas à sua
proposta é que a mudança de comportamento é temporária, visto que, na ausência
de estímulos e reforços, tendem a cessar.
Concluindo, ambos teóricos
trouxeram contribuições importantes para a compreensão do processo de
aprendizagem, principalmente porque suas abordagens do mesmo tema foram feitas
a partir de perspectivas bem diversas. Resta tão somente àqueles que estão
envolvidos no contexto de aprendizado tanto organizacional quanto escolar, se
aprofundar no estudo desses teóricos, e buscar um emprego equilibrado de suas
propostas.
REFERÊNCIAS
HILL, Winfred F. Aprendizagem: uma resenha das
interpretações psicológicas. Universidade Northwestern, EUA. Traduzido por
José Luiz Meurer. 3. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1981.
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um
processo sócio-histórico. Scipione: 2000.
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