quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Tecnologia, ensino e produtividade na educação superior: a necessidade de uma teoria

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É amplamente sabido que o Canadá tem despontado há muito tempo, tanto em elevado IDH quanto nos investimentos e pesquisas na área de educação. É notável a existência de blogs e sites, dedicados a essa área do conhecimento humano, escritos por verdadeiros especialistas canadenses, e, em especial, os dedicados ao debate sobre as experiências de cursos a distância e o uso de tecnologias educacionais na educação.


Enquanto aqui no Brasil a educação a distância, sobretudo no que diz respeito à oferta de cursos universitários, ainda enfrenta séria resistência, nos países da Europa e de outros continentes, sobretudo os de língua inglesa, a disseminação dos MOOCS (Mass Online Open Courses), que são os cursos a distância, é uma realidade, e não mais se discute sua implantação, mas seus pontos fracos e fortes, suas vantagens e desvantagens, e o que precisa ser feito para melhorar sua utilização e obter melhores resultados.  

Considerando a preocupação das autoridades canadenses em melhorar a relação custo benefício (produtividade) na educação superior, ou seja, na concepção de produtividade como “o maior retorno possível para cada dólar gasto, não importando que venha de taxas escolares ou de impostos.”, Tony Bates publicou uma série de artigos sobre essa temática, sobretudo o uso das tecnologias educacionais para alcançar esses resultados. 

Achei a discussão interessante para nós gestores/educadores brasileiros, que estamos iniciando a experiência do ensino a distância. Por essa razão, estarei publicando traduções/resenhas desses artigos neste blog, com algumas adequações, porém procurando manter a essência do pensamento do autor original.

O desafio de lidar com o aumento da demanda na educação superior

De acordo com Tony Bates, o sistema de educação de massa é uma realidade no Canadá. Ele observa que o acesso de mais pessoas ao sistema significa o aumento dos custos para o poder público, o que reflete nos impostos. Mesmo assim, ele entende que o poder público deva realmente financiar a educação. No entanto, faz uma crítica à resposta do sistema para esse aumento de alunos, que consiste, basicamente, na ampliação das salas de aula, na construção de mais edifícios, na contratação de corpo docente e professores assistentes com baixos salários. E observa que essas medidas não implicam no aumento de produtividade (da relação custo-benefício), mas revelam a falta de planejamento para lidar com as mudanças no sistema. Nas palavras de Tony Bates é uma resposta “[...] desajeitada, sem planejamento, e mal concebida [...]”.

Não sei se seria imprudência comparar essa experiência canadense com a brasileira, mas é perceptível que no processo de massificação de nossa educação superior, tem acontecido algo semelhante, visto que nossas universidades estão oferecendo mais cursos e mais vagas, e, para suprir a demanda, estão construindo novas salas de aula e contratando professores substitutos. A qualidade do resultado no processo ensino-aprendizagem, no entanto, é questionável.

Na experiência canadense esse questionamento também é levantado, porém, segundo Bates, “[...] não há evidências de que o resultado na qualidade do aprendizado tem melhorado – na verdade, o oposto tem sido cogitado (muito embora existam poucas evidências para ambos os argumentos)”.

Outro aspecto observado por Tony Bates, e que se assemelha à experiência brasileira, é que o aumento de alunos no sistema não tem significado, necessariamente, “[...] mais graduados, considerando que muitos desistem ou levam mais tempo para se graduar em um sistema menos eficiente, aumentando os custos [públicos] como um todo a cada ano”. Ele observa também que uma das conseqüências negativas desse contexto é “[...] enfraquecimento no poder aquisitivo dos professores”, devido à subcontratação de profissionais por baixos salários, tais como professores substitutos e professores assistentes.

Investimento em tecnologias como resposta ao desafio

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Como solução para essa conjuntura, tem-se depositado “Esperança ou desejo de que a tecnologia levará ao aumento de produtividade”. Em outras palavras, “A substituição dos altos custos com trabalhadores por baixos custos em tecnologia, ao mesmo tempo em que se mantém ou se aumenta os resultados”.

Bates observa que:

As universidades ao redor do mundo, e particularmente no Canadá e nos EUA, tem investido pesadamente em tecnologias educacionais: não apenas com sistema de gerenciamento de aprendizagem, de palestras, de gravação, ou quadros brancos [eletrônicos], mas com o pessoal de suporte tecnológico, e o maior, porém o mais oculto gasto, o tempo para o corpo docente aprender como usar e aplicar as tecnologias de aprendizagem.

Ele acrescenta:

Acredito que amadurecemos um pouco mais nessa temática.  O crescimento no ensino superior é tal que continuaremos a necessitar de professores e instrutores por mais tempo do que possamos imaginar. O que deveríamos procurar é conseguir mais resultados daqueles que já estão no sistema, sem, necessariamente aumentar sua carga horária. Para fazer isso, necessitamos parar de nos fixarmos apenas nos custos, mas começar a focar mais nos processos (tais como métodos de ensino) e resultados (tais como resultados de aprendizagem), e de como a tecnologia poderia ser usada para melhorar esses resultados.

Essa linguagem “industrial” de busca pela melhoria da “produtividade” também é criticada pelo autor, da seguinte forma:

É improvável transferir os modelos da indústria para a educação superior [por essa razão] Precisamos construir modelos e teorias de produtividade que melhor se adequem aos objetivos e propósitos da educação. Mas isto não deveria significar o abandono da idéia de produtividade – só necessitamos ter certeza de que ela seja adequada. (grifo nosso)

De Kurt Lewin resgata a ideia de que “Não há nada mais prático do que uma boa teoria”, e propõe a construção de uma “teoria de produtividade educacional baseada na tecnologia”. 

Nessa perspectiva, ele apresenta algumas vantagens de se elaborar uma teoria de produtividade educacional, a saber:

1 “Proporcionaria uma variedade de inter-linking conceituais para melhor definir e explorar”;

2 “Permitiria predições do tipo “Se fizermos ‘x’ nas condições ‘y’, podemos esperar que ‘z’ aconteça”.

O autor ressalta que já existem teorias poderosas sobre produtividade educacional em geral, e cita a teoria de Walberg para produtividade educacional no aprendizado em sala de aula, que destaca alguns fatores para atingir esse resultado, tais como: 

habilidade e motivação dos alunos, a qualidade e a quantidade instruções; o ambiente psicossocial da sala de aula as condições de estímulo à educação em casa e entre os pares, e a exposição à mídia de massa

No entanto, ressalta que seu objetivo na construção de uma teoria é o de:   

Focar no papel que a tecnologia poderia exercer para aumentar a eficiência do aprendizado na educação superior, e, em particular definir isto em termos de o que o corpo docente [...] (e provavelmente administradores) precisam fazer para melhorar a produtividade através de tecnologias de aprendizagem, e, especialmente, o efeito de sair das salas de aula para atividades online.

Com esse propósito em vista, ele questiona “Quais seriam os elementos de uma teoria de produtividade educacional baseada na tecnologia?”. 

Na tentativa de responder a esse questionamento, apresenta algumas idéias, a saber:

1 O que queremos dizer por resultado na educação superior – e como deveríamos medi-lo/avaliá-lo?

2 Como pode ou poderia a tecnologia mudar o processo e ensino e aprendizagem para melhorar os resultados e/ou diminuir as unidades de custos? (Na verdade, o que é uma ‘unidade de custo’ na educação?

3 Quais serão, se houver, os ganhos potenciais de produtividade do corpo docente tornando-se consultores de ensino, ao invés de instrutores no sentido tradicional do termo?

4 Quais serão, se houver, os ganhos potenciais de os alunos gerenciarem seu próprio aprendizado através do uso de recursos abertos [plataformas na internet], mas sob a supervisão de um membro do corpo docente?

5 É possível substituir despesas de alto custo, tais como: salas de aula, prédios e transportes, por despesas de baixo custo, tais como comunicações e educação a distância? Se possível, como se pareceria a organização das atividades de ensino superior?

6 Se podemos melhor definir resultados em termos de aprendizado, podemos encontrar formas mais produtivas de verificar o aprendizado?

7 Como tudo isso afetará direta e indiretamente os custos para os alunos, bem como para as instituições?

8 Poderíamos desenvolver um índice de produtividade para a educação superior para medir os efeitos do aumento de investimento em tecnologia? Se possível, quais seriam os elementos necessários?


O autor explora essas ideias em outros artigos, que estarei resenhando/traduzindo, e publicando em breve neste blog.


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