HERMIDA, Jorge Fernando. A reforma educacional no Brasil (1988 –
2001): processos legislativos, projetos em conflito e sujeitos históricos. 2
ed. João Pessoa: Editora Universitária da Paraíba, 2011.
1 BREVE APRESENTAÇÃO DO AUTOR
O autor da obra nasceu em
Montevidéu, República Oriental do Uruguai, em 1961. Naturalizou-se brasileiro.
É professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Doutor em Filosofia,
História e Educação (UNICAMP). Pós-Doutor em Sociologia da Educação
(Universidad de Salamanca, Espanha). Suas principais áreas de trabalho e
publicação são Educação Infantil, Ciência Política e Política Educacional
2 PERSPECTIVA TEÓRICA
DA OBRA
Do
ponto de vista teórico-metodológico, o autor se valeu da História e da
Filosofia da práxis. Dentre os autores citados aparece com primazia Saviani,
reconhecido pesquisador e pensador em educação no Brasil. Recorre ainda a Marx
e Weber. Elege como categorias de
análise o Estado, sociedade política, sociedade civil, parlamento, partidos
políticos, partidos ideológicos, movimentos sociais, participação e democracia.
3 VISÃO GERAL DA OBRA
A obra está dividida em três
capítulos intitulados, respectivamente: 1) Textos e Contexto da Reforma Educacional;
2) A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e sua Legislação
Complementar; e 3) O Plano Nacional de Educação.
4 PRINCIPAIS IDEIAS
Segundo o autor o objetivo da obra foi “abordar
alguns tópicos relevantes do processo de reformas, em especial aqueles ligados
à educação, visando a contribuir criticamente para a compreensão de diversas
problemáticas educativas contemporâneas”. (HERMIDAS, 2011, p. 29). Com esse
fim, ele apresenta e analisa um volume significativo da legislação em educação
produzida no Brasil no período de 1988 a 2001, entre “leis, decretos, emendas
constitucionais, protocolos, pareceres e portarias”. (p. 55).
O professor
Sílvio Sánchez Gamboa, da Universidade Estadual de Campinas – SP, ao prefaciar
a obra, ressalta o aspecto mais intrigante que emergiu da análise documental
feita por Hermidas, quando se refere às “contradições e conflitos de interesses
[que indicam] profundas desigualdades sociais, e perversos mecanismos de
exclusão”. (p. 19).
O professor
ainda explicita a importância da obra ao comentar que ela “poderá ajudar a
compreender as interrogantes e dirimir se a reforma empreendida por Fernando
Henrique Cardoso foi a manutenção de uma falácia com o consequente
aprofundamento das desigualdades ou o surgimento de uma nova prática política
voltada para as profundas transformações que a sociedade brasileira precisa”.
(p. 22).
No capítulo
I, intitulado “Textos e contextos da Reforma Educacional”, o autor destaca que
“a educação foi uma das cinco metas prioritárias da proposta de Fernando
Henrique Cardoso (FHC) [...]”. (p. 31). Porém,
a análise de Hermida evidencia a dependência da vontade e dos interesses
políticos para a tomada de decisões no âmbito da educação no Brasil.
Claramente, a
vontade e os anseios populares não são prioridade nas políticas educacionais
adotadas, aparecendo mais como estratégia eleitoreira. O tom capitalista e
marcadamente neoliberal é estabelecido nos rumos dados às reformas do governo
FHC, refletindo, naturalmente, também nas políticas educacionais. Observa-se,
nas entrelinhas, a intenção de beneficiar a iniciativa privada, e, como
conseqüência dessa postura, as instituições públicas de ensino, sobretudo as
universidades, são ameaçadas de serem desmanteladas, como aconteceu
efetivamente com o parque industrial do país.
O autor
desvela essas manobras ardilosas por parte dos políticos com ideias neoliberais
no sentido de aprovar uma legislação que viesse ao encontro dos interesses
privados, consequentemente em detrimento dos interesses dos segmentos da
sociedade diretamente afetados por essa legislação, sobretudo os profissionais
da educação.
Um exemplo
claro dessas manobras é descrito pelo autor ao analisar o caminho percorrido
para a aprovação da LDBEN. A proposta elaborada pelo Deputado Darcy Ribeiro,
que representava os interesses do governo, elaborada sem a participação de
segmentos representantes da sociedade, logrou substituir a proposta do deputado
Octávio Elísio, construída democraticamente com contribuições da “sociedade
civil organizada junto aos sindicatos e aos movimentos vinculados com os
trabalhadores da educação [...]”. (p. 49). Essa mesma dinâmica pôde ser
observada também no processo de elaboração e aprovação do Plano Nacional de
Educação.
Como já foi ressaltado, as reformas
implementadas no governo de FHC obedeciam a uma lógica neoliberal. Esse mesmo
raciocínio também era aplicado às políticas educacionais. Uma das
características marcantes dessas reformas foram as privatizações, bem como a
ingerência externa, dos investidores e credores estrangeiros. Esse fato é
comentado pelo autor da seguinte forma “Para adequar também a educação a novos
moldes e às exigências dos financiadores externos, o Ministério da Educação
realizou reformas que imprimiram novos rumos para a educação no Brasil”.
(HERMIDAS, 2011, p. 31).
O autor deixa claro com sua pesquisa a
existência de dois interesses antagônicos, ao analisar o contexto do processo
de construção da legislação para a educação brasileira: o segmento que defendia
o ensino público, gratuito e obrigatório em contraposição ao segmento dos
empresários da iniciativa privada na educação, que buscava ser beneficiado pela
legislação.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Três
características marcaram o governo FHC no que diz respeito à educação: 1)
manobras para aprovar projetos e legislação que favorecessem os interesses do
governo, em detrimento das propostas construídas de forma democrática; 2)
atendimento a diretrizes estabelecidas pelos organismos estrangeiros, sobre o
FMI; 3) pouco investimento.
Como o autor
se propôs no início de seu trabalho, para se entender os problemas
contemporâneos do país no campo da
educação, é necessário entender os interesses políticos e filosóficos por trás
da legislação que o país produziu nesse campo. Nesse sentido, a obra resenhada
trás elucidações pertinentes e coerentes.
Finalmente, se
tivéssemos que descrever, em uma frase, o processo de elaboração da legislação
em educação no governo FHC — com base no estudo apresentado pelo professor
Jorge Hermida — diríamos que foi um constante embate entre os defensores dos
interesses da sociedade e os defensores
dos interesses políticos do governo. Com a vitória do segundo grupo, conforme
pode-se constatar ao final da obra.
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