sábado, 27 de abril de 2013

Aprendizagem Significativa

MOREIRA, Marco Antonio; MASINI, Elcie F. Salzano. Aprendizagem significativa: David Ausubel. São Paulo: Centauro Editora, 2001.

RESENHA
Por Daniel Limeira dos Santos[1] 

Moreira e Masini apresentam uma discussão sobre a teoria da aprendizagem significativa, com base na proposta de David Ausubel, seu principal proponente e sistematizador.

Os autores introduzem o tema situando-o teoricamente no campo da psicologia, e distribuem o assunto do livro em cinco capítulos intitulados, respectivamente: A teoria cognitiva de aprendizagem; Aquisição e uso de conceitos; Um modelo para planejar a instrução; Exemplos de utilização da teoria; e Considerações Finais.

A teoria da aprendizagem significativa tem seu núcleo fundante na teoria cognitiva de aprendizagem, e propõe uma ruptura com a educação tradicional, que considera o aluno uma tabula rasa, na qual o conhecimento deve ser escrito; ou ainda, um copo vazio que espera ser cheio (por conhecimento prontos)

Na proposta de Ausubel é preciso que a aprendizagem  seja significativa. Para que isso aconteça se faz necessário mudar essa concepção obsoleta do papel do aluno no processo de ensino-aprendizagem

Para construir sua teoria, Ausubel se apropria de princípios já defendidos por outros teóricos da aprendizagem, e os sistematiza. Dessa forma, ao invés de simplesmente postular que a aprendizagem deve ser significativa para o aluno, ele propõe um arcabouço teórico e aponta o caminho para se trabalhar os conceitos, de forma a torná-los em aprendizagem significativa.

Conceitos-chave 

Para se compreender a proposta da teoria da aprendizagem significativa, é necessário familiarizar-se com alguns conceitos-chave.

A ideia central da aprendizagem significativa consiste em que ela “é um processo pelo qual uma nova informação se relaciona com um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo”. (MOREIRA e MASINI, 2001, p. 17).

Dessa ideia, emerge o conceito de Subsunçor, ou seja, uma estrutura cognitiva já presente no indivíduo. Essa estrutura é formada por conhecimentos já anteriormente adquiridos, e deve ser utilizada para construir uma ponte com o novo conhecimento a ser ministrado. Esse é o primeiro passo para criar condições de aprendizagem significativa.

Intimamente ligado a esse conceito, está o princípio da ancoragem, pelo qual os conhecimentos anteriores já hierarquicamente estabelecidos servem de âncoras para “segurar” as novas informações. Nesse sentido, Moreira e Masini (2001, p. 14) postulam que “Novas ideias e informações podem ser aprendidas e retidas na medida em que conceitos relevantes e inclusivos estejam adequadamente claros e disponíveis na estrutura cognitiva dos indivíduos, e funcionem, dessa forma, como ponto de ancoragem para as novas ideias e conceitos”.

Outro conceito é o de Estrutura Cognitiva, que consiste na hierarquia de subsunçores (conhecimentos prévios relevantes), que são as abstrações da experiência do indivíduo.

Alguns tipos de aprendizagem

Aprendizagem Mecânica – geralmente ocorre quando o assunto a ser aprendido é totalmente novo. Dessa forma ela acontece sem o estabelecimento de ligação com subsunçores, por não existirem conhecimentos prévios para servir como ponte. Todavia, o conhecimento adquirido com esse tipo de aprendizagem servirá como subsunçor na aprendizagem de outros temas afins. 

Aprendizagem por descoberta e aprendizagem por recepção – na primeira, como o nome já o diz, o conteúdo principal a ser aprendido é descoberto pelo aprendiz; na segunda, o conhecimento já lhe é apresentado na forma final. Facilmente se conclui que a aprendizagem por descoberta é muito mais significativa para o aluno, porém, é possível acontecer a aprendizagem significativa por recepção.

Organização do conteúdo na mente 

A figura a seguir, foi elaborada a partir da discussão apresentada pelos autores acerca da forma como o conteúdo do assunto trabalhado é organizado na mente. De posse desse conhecimento, o professor poderá planejar suas aulas de forma consciente.



              Explicando os conceitos nas colunas laterais da figura: 

Diferenciação progressiva – “é o princípio pelo qual o assunto deve ser programado de forma que as idéias mais gerais e inclusivas da disciplina sejam apresentadas antes e, progressivamente diferenciadas, introduzindo os detalhes específicos necessários”. 

Reconciliação integrativa – “é o princípio pelo qual a programação do material instrucional deve ser feita para explorar relações entre idéias, para apontar similaridades e diferenças significativas, reconciliando discrepâncias reais ou aparentes”.

Mapas conceituais 

Para implementar os princípios da reconciliação integrativa e da diferenciação progressiva, e os demais princípios da aprendizagem significativa, foram concebidos os mapas conceituais, que consistem em “diagramas indicando relações entre conceitos” (MOREIRA, 1997 apud MOREIRA e MASINE, 2001, p. 51). Este, porém, seria um estudo à parte.
Como verificar a aprendizagem significativa 

O desafio do professor de tornar a transmissão e construção do conhecimento em sala de aula para os seus alunos, bem como de tornar essa tarefa significativa e efetiva, é apenas um lado da moeda nesse processo; o outro lado é verificar se essa aprendizagem ocorreu efetivamente. E isto não dá para ser feito com os métodos tradicionais de avaliação.

A teoria da aprendizagem ficaria incompleta se esse aspecto não fosse pensado e abordado também, até porque a verificação dos resultados da aplicação da teoria é o corolário do trabalho docente. Por essa razão, Moreira e Masini (2001, p. 24) com base nos princípios da teoria da aprendizagem apresentam algumas sugestões de mecanismos de verificação da aprendizagem, a saber:

1) utilizar testes de compreensão;
2) apresentar problemas para os alunos solucionarem;
3) solicitar que eles diferenciem ideias relacionadas, mas não idênticas;
4) solicitar que identifiquem elementos de um conceito ou proposição de uma lista contendo, também, os elementos de outros conceitos e proposições similares;
5) propor uma tarefa de aprendizagem seqüencialmente dependente de outra que não possa ser executada sem o perfeito domínio da precedente.
Considerações finais 

Apesar de possuir suporte teórico robusto na psicologia cognitiva, e de ter sido estruturada de forma lógica, como toda teoria, a da aprendizagem significativa também tem suas limitações. Neste caso os próprios Moreira e Mansini reconhecem, pelo menos dois desafios à aprendizagem significativa: A atratividade do tema a ser trabalhado e o interesse/motivação do aprendiz em aprender. Se esses dois aspectos não estiverem presentes, dificilmente acontecerá a aprendizagem significativa. Nesses casos, acredito que o primeiro trabalho do professor seja tentar sensibilizar os alunos quanto à importância da disciplina, ou do tema a ser estudado. E aqui, outras técnicas e metodologias devem ser recrutadas.

Apesar disso, entendo que essa teoria vem ao encontro dos ideais dos teóricos que combatem a educação bancária. Acredito que, se compreendida e aplicada em toda sua extensão, será capaz de quebrar a monotonia que caracteriza as aulas tradicionais, pois estará apresentando objetivos claros e relevantes para os alunos. Além do mais, contribuirá para que aconteça a construção do conhecimento, e sua retenção por um período muito maior, ou indeterminado de tempo.

Entendo que a proposta de Ausubel é coerente e realista. Eu diria até, empolgante. Pode-se vislumbrar um amplo horizonte de potencialização do aprendizado, não só dos alunos, mas de todo aquele que se dedica à pesquisa e à docência. Até porque, se o docente não for capaz de aplicar, em sua própria experiência de aquisição e construção de conhecimentos, os princípios por ela propostos, dificilmente terá condições de ensiná-los a outros, ou de aplicá-los e provar-lhes a eficácia.

Do exposto, é difícil encontrar aspectos negativos nessa proposta, visto que é consistente e lógica. Contudo, considerando sua relativa complexidade e demanda de tempo e de disciplina para ser assimilada e praticada, receio que poucos educadores serão capazes, ou estarão dispostos a investir tempo em seu aprendizado e aplicação prática.



[1] Aluno do Mestrado Profissional – Gestão em Organizações Aprendentes (MPGOA) UFPB, 2012-2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário